Tuesday, August 11, 2009

A Fábula dos Converse All Stars


Quando eu era adolescente, lá pelos meus 14, 15 anitos, eu não tinha uns Converse All Stars. Porquê? Porque eram caros para aquilo que são: uns ténis de pano com sola de borracha, sem qualquer apoio decente para o pé. Tenho de fonte segura que na altura em que "Quem-não-tem-uns-all-stars-é-um-lixo" aqui neste Portugal, eram os sapatos mais rascas que se podiam ter no Canadá, os preferidos dos senhores que recolhiam lixo porque eram leves e de fácil lavagem.

De certo por entre a corja adolescente da altura, se soubessem de tal facto, já ninguém quereria usar os caros ténis dos "homens do lixo".

Digo "corja" de adolescentes porque, numas férias de verão com um grupo de "meninos-bem", aos quais não podia escapar porque faziam parte do grupo onde eu estava, a minha vidinha adolescente durante 15 dias teve os requintes que dão origem a historias como "Carrie". Tudo porque não tinha uns All Stars. E isso justificou tudo o que lhes pareceu bem dizer, rir, comentar, ostracizar. Até porque não totalmente alheia às "modas" eu tinha uns tenis "tipo" All Stars. Ui, foi o prato cheio....

Claro está que fácil remédio teve o problema. Dentro de pouco tempo também eu me recusei a calçar aqueles sapatos "nojentos" que me tinham servido bem todas as férias e que tinham uma cor bem gira e umas cerejinhas no tornozelo, e chatear os meus pais até ser a orgulhosa dona de uns cinco ou seis pares de All Stars. Ora toma! :-P

Há uns anos valentes, já convertida aos Nike, que me dão de facto apoio ao pé, sobretudo no ginásio que comecei a frequentar, e nas outras viagens que fiz, dei todos os meus All Stars porque nunca mais os calcei.

Sorrio agora aos actuais adolescentes que andam com All Stars como se não houvesse mais no mundo para calçar. E pergunto-mo se também serão párias os que não têm uns.

Estranhamente, passados muitos anos algo de semelhante acontece com o meu carro.

Velho, cheio de amolgadelas, umas de minha criação, outras encontradas de surpresa, ferrugento, branco "frigorifico", uma lata, uma sucata, que queima óleo como uma frigideira, sem ar condicionado, que por quaisquer 20min parado de faróis ligados fica sem bateria, a precisar de um "overalling" que custa tanto como a entrada de um carro novo, que já devia ter vergonha de andar com ele, esse é o meu Ford.

Em conversa de café sugerem-me carros, "um modelo novo que era a tua cara!", "essa m.... já tá a dar o berro" e eu quase que cedo... Faço contas, vejo sites, configuro carros online....

Mas como - COMO! - é que eu posso mandar abater - liquidar!! - o MEU carro, que nunca me falhou com excepção de erros que EU cometi, que nem tem 100 mil Km, que de "velho" só tem anos, e que foi o carro onde re-aprendi a conduzir ao fim de 4 anos de carta sem pegar num volante, onde ri, chorei, dei boleias, cantei em altos berros, acartei coisas para a minha casa, que me mantém os braços tonificados pela falta de direcção assistida.... E que funciona?!

Não quero saber que seja o carro com mais mau aspecto do estacionamento cheio de "carros bons" do meu emprego; que ninguém da empresa queira ser visto dentro do meu carro à hora do almoço e nunca seja eu a dar boleia para o restaurante. É o meu carro. E funciona.

Sei que há carros muito melhores, o meu amor não é cego, e até a bom preço. E também sei que não fica bem em certos "ambientes" o meu "bicho carocho". Mas eu já não sou adolescente. Não vou comprar uns "all stars" porque os meus "tenis demodé" são feios. Mesmo que agora não precise de pedinchar por uns ;-)

E só porque sim, vou levá-lo à oficina, para dar uma revisão. Que ele merece. Tadinho :-)

2 comments:

HappyFather said...

Como te compreendo... Sinto nostalgia pelo meu Ibiza, que já tinha quase 130 mil Km.

E como ter um carro velho me dava quase sempre "prioridade" nos cruzamentos.

Na tua história vejo a vantagem de nunca seres tu a dar boleia na hora de almoço... Sempre poupas uns trocos em gasolina ;)

Ah... Eu algures acabei por ter uns "all star" da feira do Fundão. Provavelmente quando já não eram moda. Apesar de adolescente, nunca liguei muito a modas. Não me ostracizavam porque eu me ostracizava sozinho, tinha os meus amigos como eu, etc. Estas coisas ajudam a fortalecer o caracter.

A. said...

Lol tens razao! eu nao me ostracizava mas sempre me dei com toda a gente do meu liceu multi cultural ;) aquele pessoal do colegio pipi é que era o meu calcanhar de Aquiles. E tens razão, fortaceleu o meu caracter - e o meu conhecimento ;) não me dava com o pessoal Portugues mais do que necessario, e foi assim que aprendi muitissimo mais do que eles nos benditos cursos de Verão ;)

E super razão em relação à gasolina! :D e ao lugar de estacionamento, que nao perco o meu lugar "do costume" ;))