Vamos abstair-nos das questões acessórias na questão do referendo ao aborto:
há vida às 10 semanas, creio que todos concordamos, por muito primitiva que essa forma de vida seja; que o contributor do esperma que deu origem a esse embrião tenha uma palavra a dizer - isso é muito discutível (por mim, por muito que isso o magoe, lamento mas vá reproduzir-se para outro útero - my body, my choice); se as mulheres que me lêem o fariam ou não, isso é com cada uma (eu não o faria, tirando em situações muito específicas, que até estão já abrangidas pela lei); que é uma situação profundamente traumática para quem o faz, creio que não restam dúvidas. Até a questão se este referendo devia ter sido feito em vez de uma decisão parlamentar é uma questão acessória.
O que está em causa é que há mulheres que simplesmente não têm outra opção em dado momento das suas vidas. Quem somos nós para mandar pedras sobre quem se vê obrigado pelas circunstâncias da vida a tomar uma opção destas?
"O que é preciso é criar condições de amparo social!" gritam alguns apoiantes do "Não". Mas o que é que isso tem a ver?! Claro que é necessário e urgente dar apoio pró-vida a quem possa recorrer a ele. Mas isso nunca irá resolver os problemas de muitas mulheres.
Os apoiantes do "NIM", como o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa , provavelmente divididos entre o que é um facto da sociedade e o problema moral de defender o que para todos os efeitos pode ser visto como a interrupçao de uma "existência", escondem-se por trás do lavar de mãos que o Não representa - "se queres fazer um aborto, vai para aí para um vão de escada, juntar à humilhação e à dor da opção que tomaste, o risco da tua integridade física."
Então porquê as 10 semanas, e não 20? Porque diz-se ser às 10 semanas que se inicia a actividade cerebral do embrião, que começa a deixar de o ser.
Mas até às 10 semanas há muito desespero a considerar pela mãe.
Não tenho problemas em ter os meus impostos a darem dignidade e condições de saneamento às mulheres (da mesma forma que os meus impostos servem para financiar tratamentos a toxicodependentes que tomaram a opção de se iniciarem num vício que os destroi, às suas famílias e à sociedade que os rodeia).
Este referendo não é um fim; é um começo da Dignidade.
Por isso vou votar SIM.
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