Tuesday, November 18, 2008

O acto "social" de ir "às meninas"....

Bem sei: sob a capa da “gaja porreira” e de uma certa abertura de espírito que me caracteriza, há certas coisas para as quais há muito deixei de apresentar-me como politicamente correcta. Sou claramente a favor da igualdade de direitos das mulheres, machismos admito-os ao James Bond, e não financio com o meu dinheiro de turista países muçulmanos já que a sua cultura me ofende profundamente como mulher. Não nasci para andar escondida, para ser menos que um homem, nem ser criada de ninguém porque nasci sem pénis. Tenho desprezo tanto por homens como por mulheres que pensam e defendem que as mulheres “servem para servir”.

No entanto, não me estorva que hajam relações poligâmicas, não sou contra bacanais, nem swing, nem S&M, nem a outra qualquer forma de relacionamento com mais ou menos confusão, desde que não magoe ninguém que não queira ser magoado, desde que não envolva mentir a alguém, abusar da confiança de alguém, trair, abusar e que – sobretudo – não incite ao crime. Eu, pessoalmente, não embarcaria em opções deste género mas quem está para isso – porque não? Whatever rocks your boat!

No entanto, há uma coisa que acho profundamente desprezível: a Prostituição.

Confesso, há algo de “romântico” no tango nascido dos bordeis da Argentina, na ideia de cortesãs mais poderosas que homens de estado, no sentimento trágico do “Moulin Rouge” e da “Dama das Camélias”, no romantismo da canção dos Police em que o “homem bom” vem apagar a “luz vermelha” da Roxanne, e na realidade eufemística do “Tomorrow we’ll see” do Sting; Ri-me da ridicularia que temo ter algo de verdadeira nas “conversas de engate” do filme “Call Girl” e não escondo algum fascínio decadente pelo Strip. E quem não achou piada ao "Pretty Woman"?

A "profissão mais velha do mundo" não tem, no entanto, nada de romântico ou glamoroso.

Universitárias que se prostituem para o luxo é um facto, mulheres abaixo dessa condição, que vendem o corpo pela aparência de riqueza. Não lhes tenho o menor respeito – nem aos homens que lhes pagam. Não deixa de haver uma certa ironia de ver as “gajas boas” a sacar dinheiro a “gajos ridículos”. Os controladores passam a controlados, pela sua própria incapacidade de lidarem com as suas próprias limitações. Todos eles, seres patéticos.

Há as que o fazem por desespero, porque não se acham dignas de melhor, muitas delas vitimas de abusos, porque há uma renda para pagar, filhos para criar e comida para pôr na mesa e sem qualificações não há trabalho que dê para tudo. "Fácil" não é com certeza o dinheiro que fazem. Rápido, talvez. Fácil, dúvido muito.

No rasto dessa “decadência de luxúria” vem algo muito cru, muito sujo, muito baixo, muito perigoso: as redes de prostituição.

São homens desprezíveis que pagam para ouvir mentiras, pelo controlo que podem exercer sobre as fêmeas, disponíveis porque são pagas para isso. Atrás vem um negócio de proxenetas, que vivem de angariar mulheres para sexo a soldo, por uma “percentagem e protecção”. A procura é grande e para quê ficar com percentagens de um serviço quando se pode ficar com tudo? E assim nasce o tráfico de mulheres. Sem documentos, sem dinheiro, sob ameaças físicas que muitas vezes envolvem as suas famílias, sorriem, como não?, nas mãos de os anormais que, incapazes de respeitarem ou se relacionarem com mulheres “reais” (dessas que dão muito trabalho...), pagam para ouvir a mentira de que são “os maiores”.

Sem oferta não há mercado? Discordo. Não há mercado quando não há procura.

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E perguntam vocês: donde me veio isto agora?
Simples:

Ontem, enquanto esperava horas esquecidas por uma consulta do médico, junto à entrada de obstetricia, onde passavam mães com os seus filhos, à falta de interesse por outra coisa que não fossem os cartazes na parede, li uma frase que me marcou:

"Nascer Mulher ainda é um risco de Vida"

A frase é título de um cartaz que faz parte de uma campanha das Nações Unidas apoiada em Portugal pela APF, cujo um dos objectivos é "Promover a igualdade do género e capacitar as mulheres", uma vez que "Por ano, quatro milhões de mulheres de todas as idades são compradas para prostituição, escravatura e casamentos forçados."

Por ironia do destino, ao falar com um amigo nessa mesma noite, uma inocente conversa sobre "despedidas de solteiro" transformou-se num "debate" (para não dizer discussão) sobre a prostituição.

Tentei puxar da minha abertura de espírito, concordar em discordar. Mas não fui capaz.
Hoje acordei de estômago às voltas, de maus fígados e mau humor.

Como mulher não foi nem uma nem duas vezes que fui abordada como se fosse "carne disponível", fosse em saidas à noite, fosse em pleno dia na minha vidinha normal. Já fingiram interesse por mim sem que lhe interessasse efectivamente o que sou como pessoa. E já me responderam que não levasse a mal: são apenas exercícios, a ver se ainda pescam alguma coisa, os frustrados "zé-zés camarinhas" desta vida.

Os mesmos, aposto, que "vão às meninas".....

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