Desisto
Desisto de ti porque até o amor tem limites, tem um fim anunciado, mesmo quando não acaba. Desisto de ti com a mesma força com que amei e por isso tenho a alma rota, o coração guardado numa caixa, com fotos, cartas e outras coisas ridículas. E aqui estou. E é como se fosse invisível esta dor insuportável que me aperta o peito e me fixa o olhar como se estivesse drogada, dopada e incapaz de ser mais do que esta representação de mim mesma.
Desisti de ti e comuniquei-o a todo o meu corpo. Disse à minha pele que esquecesse a tua, o teu perfume afinal nunca existiu e os meus ouvidos nunca reconheceram os teus passos na escada. Mas apenas a minha cabeça compreende perfeitamente esta decisão. O resto de mim foi-se embora e não sei quando voltará, porque leva tempo a habituarmo-nos à tua ausência, a mim e ao meu corpo e à minha alma.
Quanta gente sentirá o mesmo? O amor é sempre igual mesmo quando é diferente. A urgência do outro, do corpo do outro, da voz e sei lá que mais, tudo é igual em quem ama. Por isso a separação também é idêntica. E neste momento uma boa parte da humanidade tem estes olhos vazios, este amargo na boca e aperto no estômago. É engraçado saber-me acompanhada por desconhecidos.
É engraçado e irónico que entre essa multidão não estejas tu. Desisti de ti e tu nem sequer percebeste.... Apenas um número de telemóvel retirado da lista, apenas alguém que te fez rir e ter prazer. É este o resumo da minha história.
Engraçado, não é?
de Luísa Castel-BrancoNa rubrica “Instantes” , Jornal Destak 11 Jul 2006
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